sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sabidade

Dia destes subi no elevador do trabalho com o proprietário dos escritórios do prédio. Já com bastante idade e muito simpático, sempre tem uma conversinha agradável quando nos encontramos.
- Tudo bom? Começando bem o ano?
- Sim. Eu não sou daqueles que gostam de criar problemas. E só tomo para mim aqueles que eu posso resolver.
- Grande sabedoria, respondi.
E sai pensando.
Com que idade a gente é capaz de dizer isto verdadeiramente?
Gostaria de começar meu ano assim.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cara de paisagem?

"Cara de paisagem": sem vida, alheio, imóvel, "não tenho nada a ver com isto"...
Volto do Peru, não o de Cusco e Machu Pichu, mas o de Lima, litoral sul, Nazsca... e mesmo aí a paisagem diz tudo - tudo -, e não só da natureza.
De um outro mundo, de hoje, de ontem, de séculos e séculos atrás, de miles de años.
Sítios arqueológicos por toda parte, histórias embaixo de nossos pés, que nos tornam pequenos no tempo, nos feitos, nas relações com o ambiente em que vivemos (não quero dizer meio ambiente porque esta palavra já vem carregada demais). Prédios construídos em cima de restos remanescentes de cidades, modos de vida, crenças e costumes, civilizações A.C e D.C.
Escarpas em frente ao Pacífico. Montanhas e montanhas de pedra circundando a capital. Um céu permanentemente claro, mas nublado pela névoa do oceano. Horizonte borrado por esta névoa. As gentes se acostumam a viver sem um céu azul azul.
Cidades destruídas pelo último terremoto, 2007. População circulando e tentando se recriar entre destroços ainda não varridos das ruas. Ruas? Ruas com cara de Bagdá.
Dunas. Kilometros quadrados de dunas sem fim. Um outro mundo, horizonte, sol se pondo na areia. E no meio disto tudo, um oásis - de verdade e não força de expressão - água, palmeiras encravadas no meio das montanhas de areia, e servindo de refresco para populações há centenas de anos. Hoje fazem a tarde de domingo de famílias da periferia da cidade próxima. Mas na paisagem, um quadro pintado - um passeio antigo construído em torno do lago, frente a um hotel de 100 anos atrás, estilo Índia Colonial, que testemunham outras histórias. Quase dava para ver damas passeando de vestido comprido, fechado e sombrinha, embaixo do sol de rachar, ao lado de cavalheiros de terno risca de giz, chapéu e bigode bem aparado.
Linhas de Nazsca. O que é aquilo? Um vale desenhado. Linhas e curvas precisas. Desenhos e caminhos que desafiam as interpretações de ufólogos, arqueólogos, astrônomos e matemáticos.
Paisagens, e só parte das tantas que formam hoje um país. País? Nossa classificação e circunscrição de tantos e tantos territórios, de tantas e tantas civilizações, de tantas e tantas relações.
Cara de paisagem? Acho que só vale para esta própria expressão. De resto, tudo tem história, vida.
Muita vida.