domingo, 28 de outubro de 2012

Uma bandeira

Nesta época de eleições
ressalta uma síndrome
que venho tendo.
Sofro de falta de bandeira.
As "Lula lá"
que viveram tantos momentos,
e foram tão fortes,
que representavam um mundo inteiro de posicionamentos,
em uma só cor,
desbotaram.
E isto não significa nenhuma declaração de voto,
Porque não escolho mais por uma bandeira.
Sou das que demorou
a deixar o romantismo de lado,
a conseguir criticar o modelo cubano,
até mesmo a rejeitá-lo.
Neste mundo facebook
que vivo também,
tem bandeiras à disposição,
defendidas a cada dia.
De todos os tipos e níveis de profundidade
e relevância.
Adiro a muitas,
mas as cores cabem em muitas combinações.
Difícil montar uma identidade.
Claro, uma direção principal existe,
que ordena as escolhas.
Mas tenho que mapear
e explicar caso a caso.
É muita opinião
para quem já é tão opinativa.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Teatros

Casei.
Grande festa,
tudo de bom,
amigos, família.
Especial.
Mas não quis,
não quisemos,
nem a parte igreja,
nem nenhum outro ritual:
entradas,
músicas e falas especiais escolhidas para cada momento.
Uma boa festa sim.
Com músicas muitas, nem sei em que ordem.
E dançamos muito.
Entre as tantas razões
não queríamos teatro, pensávamos.
Apesar de toda a antropologia que estudara,
logo para mim não cabia um ritual, pronto.
Mas fui a milhares de casamentos,
antes, depois, sempre.
Estes que, em geral,
poderia-se dizer que são organizados como teatro.
Em um deles, especialmente lindo.
Igreja da Glória no Rio,
pequena,
aconchegante.
Estava com as meninas
logo no começo do corredor central
para ver bem todas as entradas:
padrinhos, pais, daminhas e os noivos.
Músicas específicas para cada entrada.
Pausa. Silêncio.
A grande música, som crescendo,
portas se abrem enfim para os noivos.
E uma de minhas meninas, cobrindo os olhos, me fala:
"Ai, mãe, não gosto desta parte!"
"Como não? É a parte mais linda, mais emocionante!"
"É por isto mesmo! Não gosto de muita emoção!"
Acho que esta era uma das razões
pelo menos para mim,
do não-ritual de meu casamento.
Sem saber que teatro é mesmo ensaiado,
tem falas prontas, figurino, personagens,
entradas certas nos momentos certos.
Mas traz muita emoção e nos faz sentir emoção.
E é disto que se trata.
E como minha menina,
não sei bem o que fazer com isto,
mas não cubro os olhos.
Choro em casamentos.


 

domingo, 26 de agosto de 2012

Presença

Uma saída para um acampamento da escola.
Simples assim.
Mas filha,
não me deixou
carregar a mala pesada
até o ônibus.
Tudo bem.
Me mandou embora rapidamente.
Tudo bem.
Fiquei.
Não devia, claro.
Me olhando de lampejo,
recusou-se a se juntar
ao grupo de meninas
que posavam
para os pais fotografarem.
Tudo bem.
Saí então,
sem me despedir.
Tudo bem.
Mas com a sensação
nada leve,
de ter presença demais.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Adjetivos

Adjetivos são uma classe de palavras curiosa.
Palavras curiosas.
Cheias de pré-conceitos.
Preconceituosas?
Carregam sempre um contexto,
um julgamento,
uma avaliação.
Muitas vezes quando ouço
me pego perguntando:
e...
e daí...
e daí?
Obsessivo,
bonito,
insistente,
autoritário,
todos.
Tantos subentendidos.
Impossível conviver sem eles.
E digo conviver mesmo.
Mas cansei
dos adjetivos.

domingo, 5 de agosto de 2012

No meio do caminho

Estamos em reforma.
Agora,
a meio caminho,
com paredes levantadas,
minha filha desiludiu-se
com o que será o quarto novo.
Na expectativa,
havia desenhado uma outra coisa.
Mais amplo,
janela menor,
em outra posição,
armário em L.
Frustração.
Afinal,
se "tudo tivesse sido planejado,
com a janela no lugar certo,
e do tamanho, e ...
vai ficar sempre improvisado!"
Ainda não sabe, mas
nenhuma reforma existe,
sem ajustes,
revisões,
adaptações
e improvisos,
no meio do caminho.
Pode ser de outro jeito,
sempre pode,
mas o que sei
é que faço reformas.
Estou sempre fazendo.
Consertos de roupas,
acomodações de móveis,
ajustes aqui e ali.
(Só não adapto cardápios
porque cozinha é meu fraco).
Caminhos,
estratégias,
planos.
Reformas em geral.
Faz-se.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Entendimentos

Lençóis. Lindo!
Desço o rio em direção à foz,
contra o vento,contra a corrente.
Diante de tantas diversidades,
encontro um italiano
querendo resolver o mundo
com uma longa história
dos poderes
da programação neurolinguística.
Tenta me envolver no assunto.
Acho que conseguiu.
Seja lá exatamente o que isto for,
subo o rio com questões.
As dificuldades de entendimentos mútuos,
as dificuldades de comunicação
entre as pessoas.
Subo o rio.
Desta vez a favor do vento,
mas ainda
contra a corrente.
Entende?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Olhos fechados

Foi bem assim.
Voltando de uma viagem,
esqueci um objeto no taxi.
Horas depois lembrei.
Foi uma série de ligações para a central,
esperando que o motorista aparecesse.
No outro dia um telefonema:
a pessoa seguinte a tomar o taxi,
a caminho do aeroporto,
também esqueceu um objeto.
Exatamente o mesmo.
Mas encontrou o motorista,
que ao lhe devolver,
entregou dois.
Coincidência.
Simples assim.
Mas ouvi de uma amiga, brincando:
"Deus não poupou esforços para te ajudar!"
É verdade,
podia simplesmente
o taxista ter encontrado e me retornar.
E não interessa se existe ou não Deus,
um, vários.
Mas se alguém não está poupando esforços,
não tenho me dado conta.

domingo, 20 de maio de 2012

Mania

Ganhei um casaco.
Sobretudo.
Veio em uma grande caixa,
dentro de uma grande sacola de papel.
Guardei o casaco,
a caixa,
e a sacola.
Discussão de casal.
"Não dá para ficar guardando caixas e sacolas.
Já não tem mais lugar!".
Mas vou precisar delas, com certeza.
Impossível jogar fora.
E não tem a ver com reciclar, reutilizar, etc.
Sabe mãe que sempre "raspa o prato" do filho criança?
Quase uma mania.
Uma tia foi arrumar a casa de uma parente
que acabara de morrer,
já bem velhinha.
Separar as roupas e objetos,
dividir na família, doar, esvaziar armários.
Muita coisa.
E em uma gaveta uma sacola.
Dentro um plástico.
Desdobra, desdobra,
até chegar
em um cotonete
muito bem guardado.
Ou melhoro até meus 90,
ou vou dar muito trabalho
para quem for
limpar minhas coisas.

domingo, 13 de maio de 2012

Mães e regras...

Corrijo sempre na minha filha,
as estruturas gramaticais
no meio das histórias
que vai contando.
A resposta sempre:
"Ah, tanto faz!"
E discutimos.
"Não é tanto faz, tem jeito certo de falar!"
Volto de viagem e ouço:
"Tava com saudades!"
E logo na primeira observação:
"...mas não tava com saudades das tuas regras!"
Soco no estômago.
E...
diante de uma história,
das saudades,
da conversa,
do entendimento,
ela tem razão.
Dá na mesma como é dito,
como é feito,
Tanto faz.
Por sorte,
o dia acaba mesmo
com um colo,
um abraço,
Um beijo de boa noite.

domingo, 6 de maio de 2012

Encruzilhada

Veríssimo hoje escreveu sobre a insônia.
Acompanha tantos e
tantas vezes tem me acompanhado,
que ganhei de uma grande amiga
vinda de uma viagem,
um livro para combatê-la.
(Já virou uma marca que faz as pessoas lembrarem-se de mim!)
Mas, bem dizendo,
o livro é um diário para viver a insônia.
Páginas em branco entremeadas
com citações de grandes figuras históricas,
artistas, políticos, escritores...
Um consolo - estou afinal em boa companhia -
e uma sugestão sobre como esvaziar a cabeça
de tantos pensamentos
que trapacearam o sonho,
recusaram-se a entrar no inconsciente,
e entraram em uma espiral.
Difícil de sair.
E desculpem-me pela simplificação
amigos psicanalistas,
mas afinal,
os sonhos não foram feitos
justamente para acomodar os temas,
questões, problemas, que não demos
e não damos conta?
Em algum lugar
deve existir uma encruzilhada
que divide o que vai para o sonho
e o que fica para a insônia.
Vou registrar no meu diário,
os sonhos e os pensamentos espirais.
Quem sabe olhando uns e outros
descubro,
e se descobrir,
conto.
Prometo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cinza

A propósito do show em cartaz em São Paulo,
tava ouvindo o último disco (cd!) de Chico.
Uma das músicas começa:
"Sonhei que o fogo gelou,
sonhei que a neve fervia...",
Me lembrei de uma do Caetano:
"Onde queres revolver, sou coqueiro,
Onde queres dinheiro, sou paixão..."
É Chico X Caetano;
Flá X Flu;
Ba X Vi (Bahia X Vitória, como aprendi esta na Bahia...);
Garcia Marques X Vargas Llosa;
PT X PSDB;
Pragmatismo X Idealismo;
Hemisfério direito X Hemisfério esquerdo;
Tão difícil pensar na integração,
na mistura,
na beleza do cinza.
E é Caetano que,
em algum momento também diz,
"Onde queres o sim e o não,
talvez".
Talvez.

sábado, 24 de março de 2012

Conversas

Voltando com 2 anos de Londres,
português e inglês misturados
em uma linguagem ainda se estruturando.
Muito difícil entender.
E era faladora (desde então).
Pois em um almoço com Iaiá, 6 meses mais velha,
Margarida ia falando, contando uma longa história
muito bem pontuada.
Sem tradução possível.
Iaiá respondeu muito naturalmente:
"Pois é, né Margarida!".
O que bastava
e o que basta tantas e tantas vezes.
Mais tranqüilidade, menos ansiedade por traduções,
entendimentos possíveis, desejáveis, seja porque for.
"Pois é, né!"
Conversas seguem.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Certezas

Meus escritos têm
muitas vírgulas,
interrogações,
reticências...
Dizem que um tanto de ingenuidade.
Não é um estilo limpo,
sofisticado...
Não importa.
É uma tentativa de embutir
estes pontos todos
numa vida
ainda tão cheia
de pontos finais.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vida em desordem

Li, agora mesmo, a história de um americano que,
após ter perdido em um acidente
uma parte do hemisfério direito de seu cérebro,
conseguiu se recuperar.
Ficou, no entanto,
com uma sequela curiosa.
Não perdeu sua memória como talvez fosse esperado.
Lembra-se de tudo o que ocorreu em sua vida.
Mas tudo fora da ordem.
Difícil quebra-cabeça.
Uma peça pode se encaixar em muitas diferentes.
Quantas histórias de vida,
se poderia contar,
com diferentes ordens
de acontecimentos
e sentimentos?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Luas

O ano caminhando,
duas luas cheias já se foram.
A última estava tão linda
todo mundo falou
Quando assisto uma lua cheia,
sempre lembro da história escrita por uma prima
quando ainda era pequena.
Não li, na verdade,
mas na época fiquei sabendo da idéia central.
Adorei, guardei, sempre imaginei como seria.
Era "A lua ioiô",
lembra Bia?
Tive sorte,
assisti estas duas luas
no céu e em seus reflexos na água,
rio e mar.
Inspiradoras.
Duas luas-ioiô?
Espero encontrar outras pelo ano.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Fases

Minha filha de 11 anos começou esta semana no sexto ano,
quinta série.
Ao deixá-la na escola inesperadamente chorei.
Foi uma ressaca de um dia inteiro.
A mesma que tive quando saiu da pré-escola para a escola.
Mas esta era mais natural e esperada.
Também senti quando há poucas semanas
uma afilhada fez 15 anos.
Choro por elas,
não de tristeza, claro.
Mas choro também e talvez
por meus quarenta
e tantos.
Acho que não de tristeza,
mas não tenho certeza.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Recuerdos

Estive no Paraguai.
Não o Paraguai-25 de Março de Ciudad del Este, nem o Paraguai-Assunción.
Nem mesmo o das Missiones, dizem que pedaço mais preservado das Missões dentre os 3 países - Paraguai, Argentina e Brasil.
Também não o de outras tantas regiões bonitas indicadas nos guias.

Estive em Ypacaraí, o grande "lago azul" próximo a Assunción.
Um dos maiores do Paraguai,
país distante do mar.
Sim, um lago onde se vê o horizonte,
praia, veleiros e sobretudo um pôr do sol.
Um Pôr do sol.
Lindo.

Ypacaraí do Recuerdos,
guaranha que meu vício melancólico não se esqueceu de buscar,
completando o clima do pôr do sol no final do dia.

Estive no Paraguai-Ypacaraí.


Recuerdos de Ypacaraí
Demetrio Ortiz y Zulema de Mirkin

Una noche tibia nos conocimos
Junto al lago azul de Ypacaraí
Tú cantabas triste por el camino
Viejas melodías en guaraní.
Y con el embrujo de tus canciones
Iba renaciendo tu amor en mí
Y en la noche hermosa de plenilunio
De tus blancas manos sentí el calor
Que con tus caricias me dio el amor
Donde estás ahora Cuñataí
Que tu suave canto no llega a mí
Donde estás ahora, mi ser te añora
Con frenesí.
Todo te recuerda mi dulce amor
Junto al lago azul de Ypacaraí
Vuelve para siempre
mi amor te espera
Cuñataí.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Porta aberta

Sou daquelas que não consegue pular a introdução de um livro sem culpas e simplesmente começar a ler a partir do capítulo 1.
Por pior que seja uma introdução, longa, cheia de adjetivos e explicações, pretensiosa. E pode ser escrita pelo próprio autor ou por um crítico, estudioso de sua obra, enfim, não faz muita diferença.
Insisto até enfim desistir, da introdução ou do livro mesmo.
Não é sempre assim, por sorte.
Muitas delas são o pontapé para entrar no clima, ou podem até ser melhor que o que vem pela frente.
Fato é que nunca sei o que esperar delas.
E como tudo deve ser começado do começo (tudo?),
começo pelo começo.
Porta de entrada.

2012 está ainda em sua introdução e já teve muitas amostras.
Da lua cheia iluminando cataratas a dias mais nublados.
Sem olhar crítico, por hora, mas com dúvida sobre o que vem pela frente.
E é para ser assim, não? De qualquer forma, não dá para desistir.
Portas abertas para 2012