quinta-feira, 31 de março de 2011

Histórias de pai, histórias de mãe

Não queria apelar para estereótipos, mas histórias de mãe e histórias de pai...
Uma sobrinha veio um dia dormir em casa. Uns 6 anos, talvez.
"Se você acordar à noite, pode vir para o nosso quarto, tá bem?"
Três da manhã lá estava, querendo os pais.
"Olha, está muito tarde. Deita aqui e dorme no meio da gente".
Sonada, joguei para o lado:
"Seu tio conta uma história prá você".
Deitou, voltei a dormir - tentei - e ele começou:
"Sabe, tem um projeto de satélite em que o tio está trabalhando, super legal!
Acordei assustada e tentei ajudar:
"Você sabe o que é satélite?"
"Não!"
"Então, é ..... "
Só me faltava ter que imaginar como explicar didaticamente o que é satélite às 3 da manhã, pensei.
E ele continuou:
"...e este satélite é muito legal porque ele dá não sei quantas voltas na Terra por dia, e passa por cima da Amazônia, e dá para monitorar...".
De novo tentei:
"Você sabe o que é a Amazônia?"
"Não!"
"Então, é uma floresta ..."
Ele continuou. A história terminou, não sei em que parte.
Silêncio por um tempo...
"Tia, não estou conseguindo dormir!"
Eu também teria insônia neste caso.
"Então... sabe...era uma vez, num reino muuuuito distante, uma princesa que...."

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nuvens

"Relaxa. Pensa que no final é tudo nuvem", ouvi em um momento de stress.
Cinza? Poeira? Tempestade? Radiação? Vapor?
Nuvens de algodão?
Nuvens formam desenhos.
Não tenho opção. Terei que imaginá-los.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Repertório é tudo!

Confesso: fui assistir a "Never say Never" com uma filha e uma amiga dela.
Biografia filmada dos longos e edificantes 16 anos de vida de Justin Bieber e de seu ano de sucesso em turnês.
Para quem não tem filhas pré-adolescentes, explico: o mais novo fenômeno do marketing musical americano (ainda que ele seja canadense). Tem voz, as musiquinhas de sempre, e as incomodantes  coreografias padronizadas e menininhas gritando e desmaiando ao vê-lo como o príncipe encantado. Ainda o príncipe encantado...
Sei, faz parte da fase que estão entrando, pertencer, meninos pop, etc. Enquanto assistia, ficava pensando que conversa poderia ter com elas depois, para relativizar, diluir aquela encenação toda - seria uma típica cena de "mãe controladora vai ao cinema com filha".
Me acalmei. Na conversa, Justin foi colocado, por elas, na lista de ídolos junto com Nando Reis.
Chegando em casa continuei: coloquei o DVD do "Playing for Change", belo projeto. Os próximos: "Buena Vista Social Club", "The Commitments". Formação de bandas e roteiros de turnês.  Prometo não chegar com elas ao filme "Ensaio de Orquestra", de Fellini. Não desta vez.
De qualquer forma, diversidade de repertório é o que vale.
Para todos nós já que parei acho que lá pelos anos 90.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Carros

Preconceitos à parte, nunca me apeguei a carros, o que não significa que eu não tenha na memória vários  que passaram pela história da família. Uma Perua Rural branca e verde de meu avô. Um Aero Willys que foi do outro avô por toda vida e que está com a gente até hoje. Um Karmann Ghia vermelho de um tio - crianças, adorávamos. Um Decavê (DKW) de um outro tio, acho, que era chamado de Jabiraca. Alguns Galaxies que passaram - tamanho da família.
Uma certa altura meu pai teve um Maverick cinza, velho. Detestávamos. A casa toda ficou aliviada quando ele resolveu fazer uma rifa para passá-lo adiante, só para descobrirmos que ele recompraria do sorteado em seguida.
Em 95, chegando em San Diego para uma temporada de estudos, fomos alugar um carro para o período, em uma loja de um indiano. Um Volvo antigo saltou aos olhos. "Sempre quis ter um Volvo! Motor forte, nunca quebra!", dizia Sennes. 40 km depois, estacionado na porta de casa, claro que não deu partida no dia seguinte. Liguei para o indiano: "Kush, o Volvo não está pegando!" Um probleminha pequeno que estaria arrumado em 1 semana. De volta na porta de casa, novamente não ligou no dia seguinte. Acabamos ficando com uma marca americana qualquer, sem charme.
Aprendi: Aero Willys é um carro para toda a vida, Mavericks não têm liquidez na venda e Volvos nunca quebram.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Animais domésticos

Não gosto muito de animais domésticos. Vejo como meu amigo agricultor: animais devem ser tratados como... animais e viverem no seu reino animal.
De qualquer forma, vivendo na cidade, com pais, irmãos, amigos, marido, filhas que gostam de animais, acabei sempre convivendo com eles. Já tivemos coelhos soltos no jardim, que comeram até a raiz da grama e, presos, transformaram seu cercado em um problema de saúde pública, tantos os filhotes gerados em espaço pequeno. Por sorte não tínhamos dado nome a eles, o que tornou mais fácil enviá-los ao sítio, sem culpa e sem pensar no destino que teriam.
Já nosso cão pastor tem nome e sobrenome. Sua ninhada, no canil, deveria ter nomes começando com F. Para evitar Fritz, Frank, etc, ficamos com Fio."Fio Maravilha....". Tem até música homenageando! É um ser muito bonito e simpático, exceto pelo fato de ser um cão.
Mas a domesticação de animais pode chegar a extremos. Outro dia uma sobrinha percebeu que sua kalopsita na gaiola estava com sangue no pescoço. Meu  irmão foi checar e o tal passarinho estava com mais da metade do pescoço aberto, machucado na gaiola. Rapidamente ao veterinário. Anestesia para poder dar ponto, parada cardíaca, massagem para reanimar - nem sei como foi possível fazê-lo. Aguardando o passarinho acordar da traumática cirurgia, minha cunhada presenciou cenas curiosas na sala de espera: um coelho chegou com hipotermia, uma tartaruga com o útero para fora. Se bem me lembro da história, chegou também um papagaio com uma pata queimada. Por sorte o passarinho logo acordou e eles - passarinho e cunhada -  voltaram para casa, sãos e salvos.
Minha criatividade não dá conta de imaginar qual seria o caso seguinte a chegar naquela sala de veterinário.