quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Previsões, planos, promessas, balanço

Época de ler bilhetes, mensagens, cartões com citações e poesias falando da esperança, da beleza da simplicidade, da vida, dos desejos para o ano que virá.
Também cheio das previsões, de análise de cenários de futuro mais pragmáticos a "viagens" astrológicas. Sem demérito de nenhuma delas, quem sou eu para duvidar...
De qualquer forma, chamam atenção para o meu balanço do que foi.
Etapa inevitável para planejar um novo ano, cheio de promessas para um ano que ao final terá um novo balanço e novas promessas reeditadas para o próximo, e outros tantos anos.
Balanços.
Me vem à cabeça um texto de Rubem Alves que li há tempos atrás.
Falava de balanço, balanço mesmo. Da delícia que é balançar num parque, num quintal, embaixo de uma árvore. Um costume que os adultos deixam para trás, coisa de criança, e esquecem como é bom, gostoso.
Leveza.
E, de verdade, me traz esta sensação mesmo.
Estar no ar, pés no chão em alguns momentos para manter o impulso. E depois perna esticada, perna dobrada, para manter o movimento para frente e para trás.
Vento no rosto.
Em casa, quando chegam crianças, o que é bastante frequente, atravessam a sala correndo e vão direto ao balanço que vêem no jardim desde a porta de entrada.
Inveja.

Feliz Anos Novos,
com muitos balanços,
o tempo todo.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Tricotando

Todo mundo já viu uma avó ou alguém tricotar.
Ponto por ponto, linha, lã, longas agulhas, mais finas, mais grossas e a lista do que pode sair de lá ainda mais longa: malhas, cachecóis, meias, bolsas, polainas - peça de vestuário muito estranha, mas me lembro desta possibilidade porque era moda nos anos 80 (!!!)  e foi a primeira coisa que aprendi a fazer no tricô em umas férias de julho na casa de minha avó.
De possibilidades em possibilidades, também a palavra tricotar é usada de outras formas.
"Estava tricotando com alguém" - fofocando, contando e ouvindo histórias.
E vivi isto literalmente e entendi que pode ser ainda mais.
Num inverno há uns 4 anos atrás meu avô de 92 anos faleceu
Boa parte da família foi para a cidadezinha do interior se despedir.
Era meio de semana e, seguido ao enterro, todos voltaram para suas cidades para trabalhar.
Ficaram alguns, principalmente mulheres: filhas, netas, acompanhando minha avó naqueles dias.
Eu fui das que voltou para trabalhar.
Mas retornei no fim da semana e encontrei todas na varanda,
tricotando, num clima de conversinha tranquila, minha avó quietinha junto.
Não sei o que saiu daqueles dias. Provavelmente cachecóis, talvez alguma malha.
E claro, uma tranquilidade maior para passar por um período difícil que viria.
Me juntei a elas, na conversa, não nos pontos daquela vez.
Aliás, faz tempo que não pego uma agulha, nem nunca tive tanta destreza assim,
e também não é inverno.
Mas adoro um tricô.


Outro dia fiquei lembrando: das minhas duas avós, uma era do tricô, a outra do crochê. Não sei se isto quer dizer alguma coisa.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

É demorado


Um tanto de tempo depois que minha primeira filha nasceu,
cansaço já diminuído,
me dei conta.
Tão claro e tão difícil de entender.
Mais ainda de explicar.
O tempo, a história, já não eram mais os meus.
Eram os dela.
Ver uma nova vida e uma nova história começando.
E uma sensação de que a minha linha do tempo terminava ali,
eu continuaria numa outra linha do tempo.
Me estranhei.
Em algum momento retomei minha linha e aquela sensação sumiu.
E outro dia li uma citação de Guimarães Rosa:
"Vocês têm paciência meus filhos. O mundo é meu, mas é demorado...".
Riobaldo, que não falava de filhos, mas de um cuidado com os seus no meio de uma batalha. E a paciência necessária para esperar o final.
Já estava com aquela minha história na cabeça e achei que um pouco me servia.
Sobre tempos, sobre cuidados.
E por tempos e cuidados,
me serviu ainda mais num momento em que minha mãe recém fez seus 70,
com grande comemoração.
Tem sua linha do tempo e tem o sempre cuidar dos seus.
Do sentir como mãe e como filha, posso dizer:
O mundo é meu e é dela e não é preciso pedir paciência.
Está aí e é demorado.

sábado, 19 de novembro de 2011

Jabuticabeiras

No meu caminho para o trabalho vi um pé de jabuticaba Grande na caçamba de um caminhão. Sem ter muito o que pensar logo de manhã, me peguei com um pensamento longo sobre a árvore e a fruta.
Para começar, simplesmente adoro. Adoro o gosto e adoro comer, com aquele estouro que faz na boca. E tem todo aquele romantismo de comer a fruta no pé. Pé de jabuticaba é fácil de subir, e que me lembre subi muito na fazenda de meu avô. Mas hoje não sei como se faz sem sentar e amassar as jabuticabas, tingir a roupa, estragar os brotos.
Jabuticaba na feira é menos romântico, mas mais fácil e vem de montes. Meu pai, que tem por natureza pechinchar, chegou uma vez em uma barraca em fim de feira e arrematou - esta é a palavra mesmo - tudo o que tinha sobrado no tabuleiro. Muita geléia para não estragar.
Vi a jabuticabeira e veio de novo o desejo de ter uma Grande, no quintal. Melhor que minhas amoreiras, que também gosto, mas não dão jabuticaba, claro, nem é um pé tão bonito.
O problema é que é uma arvore que cresce lenta.
Pois volto a pensar naquele pé já crescido a ser replantado, em um jardim qualquer, e a tentação: "Já dando fruta", diz a placa destas caminhonetes que as vendem pela cidade. Mas se é para comer jabuticabas, o tabuleiro da barraca da feira dá bem conta.
Uma jabuticabeira plantada por você não. É uma questão de persistência e de acreditar que vai chegar o dia de subir no pé e se tingir para comer as frutas que você plantou.
Paciência.
Maturação da árvore, maturidade do plantador.

domingo, 6 de novembro de 2011

Quarto de costura

Tenho um quarto de costura no fundo de casa.
Uma máquina, uma mesa grande, cestas com linhas, fitas e botões
e um armário: 4 portas cheias de panos colecionados
e roupas a serem ajustadas, reformadas, adaptadas.

Não que eu saiba de fato costurar.
Dou uns jeitos, pouca técnica, muitas idéias,
sem muita sistemática nem paciência para seguir o passo a passo
de um acabamento fino.

Há também outros tantos materiais interessantes:
latas, fios de arame, cordas, vidros que foram coletados para virarem outros objetos um dia.
Já tive idéias para cada um deles.

Verdade mesmo é que praticamente nunca uso o tal quarto.
Falta tempo, tranquilidade, disponibilidade.
Mas ele está lá e é imprescindível.
Me recuso a chamar de quarto de despejo.
O de despejo é um outro, tem outra função
que a família e amigos bem avisados conhecem.
(outro dia uma amiga encontrou duas camas de solteiro que estava precisando...)

Meu quarto de costura não, não é despejo.
É meu depósito de planos e desejos.

domingo, 30 de outubro de 2011

portas abertas

Previsoes para o ano. Me preparo. Busco em varios sites. Aquele ponto em que nao acredito, mas acredito. Sei nao se nos formatamos a partir disto ou o inverso. As vezes brincadeira - o que sera que me espera? Um pouco ansiedade. Leio, passa e amos em frente. Que las hay, las hay....que ;as hay, las hay? (de creer en brujas...).
Bom,

Eu escorpiao, mas poderia ser touro,talvez leão,sei lá. Acredito em signos? Sim e nao. Brinco com eles. Nao sao determinantes, mas bem fico buscando semelhanças entre as pessoas de mesmo signo. E encontro, ao menos superficialmente. Mais uma forma de olhar, entender. Valem muitas outras que tambem me fazem sentido. Espiritismo? Pode ser. Que las hay, las hay. Uma vez, turista em Salvador com uns 8 anos. Na frente da igreja do Bonfim um monte de barraquinhas ven tao cara de Bahia, fazia equivaler: catolicismo, com umbanda, com...horóscopo! A cada signo equivaleria uma guia. Legal! Escorpiao? Exu. Desesperei. Exu, no meu conhecimento eqüivalia ao diabo. Terrível no contexto de minha criação católica. Eu já achava que tinha algo de ruim em mim, nas culpas católicas, mas ver isto comprovado daquela maneira era muito forte. Acabei com uma guia de nosso senhor do Bonfim, branca, valia para todos. Sei, Exu nao "eh o diabo", mas a visão católica existe lá no fundo.

Ja comecam as previsoes e la vou, levantando as minhas. Por sorte sao genericas, preencho dos significados que quero e guardo alguns como duvidas, em aberto o que podera ser, pois mesmo as previsoes, por sorte, nao sao tao precisas.
Portas abertas para o ano novo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um par de sapatos e uma bolsa

44 hoje.
Me lembrei de uma de minhas avós.
De origem italiana, do interior de São Paulo, uma figurinha.
Já viuva e com cerca de 80 anos, vinha algumas vezes nos visitar na capital.
Uma vida simples, vivida a maior parte no sítio, cuidando da rotina diária,
mas tinha seus caprichos: gostava de bons sapatos e bolsas.
Mais especificamente de uma loja tradicional de São Paulo,
com uma filial em um dos bons shoppings da cidade.
Nestas visitas eu a levava a fazer suas compras.
Ao experimentar e escolher os modelos, me dizia:
"Esta é a última bolsa (ou par de sapatos) que eu compro na vida".
Eu ria.
A bolsa duraria mais que ela?
Não tinha importância. Falava com naturalidade.
A cena se repetiu algumas vezes.
Mais que uma bolsa e um par de sapatos.
Viveu até seus 90 anos.
Meus 44?
Ainda alguma naturalidade para pensar em um tanto de pares de sapatos e bolsas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Listas

Fim de dia, fim da semana.
Podia fazer mil listas:
da rotina, das pendências, das culpas,
das dívidas, das desculpas, das vontades,
das canseiras.
Todas.
Entrei no táxi ensimesmada.
Palavra meio feia,
mas claramente a mais adequada naquele momento.
O taxista queria conversar,
falar das suas listas.
Táxi errado.

sábado, 15 de outubro de 2011

Viagens, conexões

Museu Casa Ruth Lechuga 
Fantástica coleção privada de arte popular com milhares de peças que compõem, compuseram, expressam,  a vida, o cotidiano, os rituais dos povos indígenas e comunidades tradicionais, antigas e contemporâneas, mexicanas. 


Visita só marcada e guiada por uma antropóloga. Saio com questões em aberto sobre autenticidades, interferências do mercado nas produções, lugar da "arte popular" nos museus, nas feiras e lojas, paredes das casas, enfim...
Muitas questões que dão bons debates, mas não apagam os desenhos, as cores, a vida que está por trás de cada objeto.


Me lembrei de uma outra experiência em viagem. Em Estocolmo, passeando, um dia, dois dias, muito bonito mas não conseguia me conectar com aquele lugar. Tudo muito distante, frio. No terceiro dia fui ao Museu Nórdico. Figuras, peças, objetos, madeira, cerâmica, tecidos, roupas contavam a história daquele povo, clima, modos de vida, jeitos. 
Tudo fez sentido: saí do museu vendo a cidade e as pessoas de uma outra forma. 
Conectada.

domingo, 2 de outubro de 2011

Partida ganha

Menina, 10 anos, comprou um ipod.
Baixou inicialmente 3 cds.
Escolheu:
Justin Bieber,
Secos e Molhados,
Tim Maia.
Pensei: 2 X 1.
Competição besta!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Minha caixa

Fui montando uma caixa.
Fui guardando preciosidades dentro dela.
Fechei para não escaparem,
com medo.
Não me dei conta,
de que se ela fica fechada,
não entram novas preciosidades.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Explicações

Ruínas Maias, pirâmides e construções de pedra.
Uxmall,  México.
Paralisei frente à primeira pirâmide.
Para completar, um céu cinza, quase chuva.
As histórias e explicações do guia viraram voz de fundo,
e eu não queria sair dali.
Na volta, vendo as fotos, contei para as meninas
da minha reação.
"Emocionada? Como assim?", me diz minha filha de 8 anos.
"Estranho! A gente fica emocionada quando encontra algum ator, cantor,
que a gente gosta muito. (Justin Bieber, talvez?).
Não com uma coisa!".
Devia explicar? Dava para explicar?
Melhor não.
Quer saber?
É difícil dizer e reconhecer,
mas não sei, nem quero explicar tudo...

domingo, 4 de setembro de 2011

Quase

A classificação era maiores de 10.
Pensamos com nossos amigos: vai dar para levar as meninas,
de 10 anos ou quase.
E fomos: 2 casais de 40 e tantos e as tais meninas.
Fato é que o filme classificado para 10,
comédia, não sexo, drogas e rock'n roll
(expressão que já entrega os quase dos 40...)
mas bem havia uma cena de quase sexo que nós,
os pais de meninas de 10 anos ou quase,
pensamos ser demais.
Até onde vai a cena? Terão outras mais?
Afundamos na cadeira. Já foi.
Era rir e administrar o que viesse depois.

Nesta idade em que ainda brincam de boneca,
mas já se fecham no quarto para fofocar com as amigas ouvindo suas músicas,
mais uma vez nós, os pais de meninas de 10 ou quase,
também bambeamos entre ser pais de crianças ou de adolescentes.
Eu, pelo menos, erro no tom frequentemente,
mais que frequentemente na verdade.

Pois, no filme, a menina de 9,
que de verdade é quase 10,
assistiu à tal cena inteira,
mas fechava os olhos, religiosamente, em todos os beijos do filme.

Não gosta de ver estes beijos, como ela diz.
Ainda.
E não tenho a menor idéia até quando.

domingo, 28 de agosto de 2011

Palavras

Outro dia, acompanhando a lição de casa de português de minha filha,
começamos a brincar com o dicionário, aquele velho e bom de papel (ainda não uso i-pad):
ler uma página cheia de palavras estranhas ou engraçadas e descobrir o que significam;
tentar definir palavras fáceis e comparar com as definições do dicionário.
Tinha me esquecido dos meus vários dicionários, thesaurus, sinônimos e antônimos, etc, em português e em outras línguas, que em certa época gostava de consultar ou usava para estudar.

Outro dia, li uma epígrafe de um artigo que lembrava uma frase que Humpty Dumpty disse a Alice (em "Alice Através do Espelho") em uma conversa-jogo de adivinhas-perguntas-respostas:
"Quando eu uso uma palavra, ela significa exatamente aquilo que eu quero que signifique...nem mais nem menos".

Pois outro dia ainda, coincidência ou não, li sobre o lançamento de um dicionário em inglês bastante curioso - "The Word Lover's  Miscellany" - um dicionário divertido que reúne termos em classificações originais: insultos, palavras extintas, palavras arcaicas, palavras com som agradável, palavras para coisas intrigantes, palavras para impressionar, clichês... Pareceu que saía do mesmo livro de Alice.

Palavras têm sido um tema para mim atualmente. Seja por idade (!) ou cansaço ou qualquer outra questão,  tenho perdido muitas delas. Aquelas que deveriam dar precisão, pelo menos pretensamente, ao que quero dizer. Aliás, perco as palavras ou elas estão me faltando, ou tenho perdido o caminho até elas?

Talvez meu caminho seja o de seguir Humpty Dumpty e garantir um significado meu às palavras imprecisas que uso. Ao menos até agora não perdi o sentido do que busco dizer. O problema será o das Alices, com quem converso, entenderem este jogo.




sábado, 20 de agosto de 2011

Primeira Infância...

"Mãe, hoje eu di mimite na Mila.
Você o que, Iaiá?
Eu di mimite na Mila.
O que é mimite?
É assim...- e pegando em um punho com a outra mão - ..Mimite!"

Demorei um pouco a entender o que minha filha, de quase 2 anos, alguns meses de Tearte, queria dizer, no carro, de volta da escola. Vim a saber que se tratava do Limite!, palavra e gesto que são uma das primeiras conquistas das crianças que entram na Tearte: de início, defender-se de quem o agride ou  desrespeita. Mas muito mais que isto, como tudo o que acontece por lá. É aprender a olhar no olho, a enfrentar seus desafios, a perceber os seus limites, a se relacionar com respeito, iniciando pelo respeito a si próprio, que os outros devem reconhecer.

O que dá para falar da Tearte? Quintal de avó, escola alternativa(!), aprender brincando, espaço de liberdade? Nada disso diz exatamente do que se trata e parecem, às vezes, até equívocos.

Como explicar uma caixa de brinquedos velhos, pedaços quebrados, sujos, embaixo de uma casinha de madeira suspensa, que são descobertos e redescobertos pelas crianças? Como explicar bebês dormindo em um colchão sem lençol, no chão, ou engatinhando no meio de um salão por onde passam e correm crianças de todas as idades, sem atropelá-las? Como explicar um quadro de ferramentas, com martelo, serrote, pregado na parede da oficina na altura das crianças que passam o tempo todo por ali? Como explicar uma rampa para o campinho, alta, sem rede e proteções laterais? Como explicar rampas, degraus, valas, que podem representar grande perigo para crianças que estão começando a andar, ou que vivem correndo nestes espaços? Como explicar a letrinha, processo que ajuda os mais velhos a pipocarem - iniciarem uma alfabetização a seu modo, em seu ritmo -, no meio de um salão onde todos circulam, passam, cantam o tempo todo? Como explicar a forma como as atividades vão sendo realizadas, agrupando crianças de mesma idade, mas também incluindo menores ou maiores, sem um planejamento prévio, apenas com um olhar sensível dos educadores que na troca de olhares percebem onde e o que está precisando ser feito?

Regras introjetadas em todos os que lá convivem, reconhecidas e monitoradas por todos. Respeito; justiça; autoridade, autoritarismo também; rigidez, mas também possibilidades múltiplas. É lá que a pinhata tem um sentido de passagem e não uma violenta "malhação de judas", como foi algumas vezes a impressão de amigos e familiares em festa de aniversário em casa. É lá que o Tião, músico maranhense, tem espaço em todos os momentos do ano e não apenas nas festas juninas ou folclóricas. É lá que...muitas coisas!

Espaço construído com muito conhecimento, muita experiência, muita interação com especialistas e não especialistas. Entendida e vivida com mais ou menos flexibilidade, mais ou menos submissão às regras, mais ou menos questionamentos, mais ou menos tranquilidade, por sua comunidade de pais, educadores, crianças, a Tê. Muitos acertos e erros, claro. Experiências no dia-a-dia.

Aí passei com minhas filhas a primeira infância nos seus 2, 3, 4, 5, 6 e 7 anos, entre 2002 e 2009.

Esta história escrevi há um tempo atrás e alguns já leram, mas repito neste momento em que a Tê - Terezita - faz 80 anos, com uma linda festa-piquenique, com mais de 100 famílias e suas crianças que por lá passaram.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Afinal...

Se, afinal,
é tão difícil
chegar ao sim,
talvez então,
trocar o não
ponto final,
pelo não
interrogação
ao final.
Porque não?

É isso que dá ser mãe de 2 meninas...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Verticalidades

Leio alguns blogs de vez em quando.

Dia desses cai em um de uma brasileira radicada nos EUA - http://www.fronteirices.blogspot.com/. Não conheço a figura. Esta coisa estranha de redes sociais, de seguirmos por caminhos que não conseguimos traçar de novo.

Em um post recente iniciou:
"Precisava me perder. Precisava me entregar para horizontes distantes, desprender-me da verticalidade da vida (crescer, ambicionar, ter rumo, ter planos, ser alguém)."

Parei por aí. Não precisava ler mais nada. Queria eu ter escrito.
Acho que não quis mais que isto nos últimos tempos.
Verticalidade me parece um termo apropriado para estes tempos multi-tarefas, multi-estímulos, multi-demandas.
Cansa.
E é bom lembrar que o horizonte descansa os olhos,
... a cabeça, a alma.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aglutinações

Uma de minhas filhas aglutinas palavras.
Veio escrito no boletim.

Pensei:
questões de português aserem ajustadas,
ou pressa do pensamento mais rápido quia escrita,
vontade de juntar o questa separado,
e, porque não,
uma veia poética despontando.

Brincadeiras, exercícios de imaginação.
Tem que ter um tanto de objetividade,
um tanto de subjetividade,
um tanto de imaginação,
para entender os filhos.

Mas morro de saudades da fase em que elas escreviam as letras ou palavras espelhadas.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sobre as pequenas coisas

Passeava com uma amiga inglesa numa mata ao lado de sua casa.
Inverno com sol e frio e um caminho de pedriscos em meio às árvores desfolhadas.
Tinha lá meus 20 anos, ela seus 40.
"O que mais gosto nestes passeios é de olhar estas pedrinhas do chão. Olha como cada uma tem sua própria sombra!"
Não soube como entender o que ela falava. Achei ela hiper detalhista, talvez um modo inglês de ver as coisas, sei lá.
Aos 40 e tantos, parece fazer mais sentido.
Diz-se da sabedoria que vem com a idade,
de aprendermos a dar mais valor às coisas pequenas.
"Cada pedrinha tem sua própria sombra".
A verdade, no entanto, é que eu continuo inquieta,
a olhar mais para onde vai dar o caminho.
E as pedrinhas e suas sombras?
Tropeço em algumas volta e meia,
e me lembro que elas existem.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Paisagem

Paisagem branca.
Aqui no "Fim do Mundo", como chamam,
o horizonte termina lá em cima, no céu.
Nevou lindo.
Uma gota derretida escorreu pelo parabrisa do carro.
Era uma lágrima.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Uma casa à venda

Outro dia, numa crônica no jornal, Antônio Prata escreveu sobre a nostalgia, um sentimento que estaria fora de moda atualmente, mas fundamental para dar "cor e sabor" à vida, um olhar para o passado que, ainda que revisitado - e até por isto, eu diria -, é a matéria de que se faz o presente.

No filme "Meia Noite em Paris", de Woody Allen, novamente a nostalgia em cartaz. Aliás, era o que dava uma pitada de graça à vida banal de um roteirista americano e o que lhe abriu um outro horizonte.

Apoiada nestas visões, desisti de querer me desculpar por meus viéses nostálgicos. Fora o cuidado de não borrar o futuro com uma perspectiva negativa, me trapaceio com as  várias formas em que pode vir vestida a nostalgia: romantismo, idealizações, saudosismo, recriações, até mesmo lamentações, esta sim a  forma mais perigosa.

Neste meio tempo entre a crônica e o filme, recebo uma notícia que puxou mais um fio nostálgico da memória. De uma história feita de pedaços que me foram contados, outros que vivi, outros que imaginei.

Uma família italiana que começou com um bisavô imigrante do norte da Itália em fins do século XIX. Foi parar num sítio, interior de SP, rodeado de italianos com histórias similares. Casou, montou sua vida.
No sítio foi construída uma casa, pelo próprio bisavô e os homens da família, dizem.
A casa era rodeada por um cercado de bambu. Janelas grandes, verdes mais para o claro.
Uma escada dava na varanda frente à porta de entrada. Um corredor central  levava à sala de jantar - mesa para umas 10 pessoas,  os adultos.

Do corredor e da sala saiam as portas para quartos e, em alguns deles, outras portas internas davam para mais um ou dois quartos. Um labirinto para as crianças - netos.
Nos quartos, camas Patente embaixo das quais ficavam pinicos para usar de noite, afinal não havia um banheiro com vaso sanitário dentro da casa. O vaso sanitário ficava numa casinha, só para ele, fora do cercado. Um espaço coberto de 1.50 m x 1,50 m, portinha de madeira, um buraco no chão no fundo do qual passava água corrente que lavava a sujeira para o riacho mais abaixo.

A casa era alta, tinha na frente um porão.
Contaram-me que era lá que engarrafavam o vinho comprado em tonéis e passavam as garrafas por um buraco no teto que  dava para um alçapão que se abria no chão de madeira do escritório.
Um copo de vinho todos os dias no almoço. Minha avó tomou até sua morte com 89 anos.
Os vários filhos do Nôno foram se casando e uma parte das novas famílias ficou morando lá mesmo. Muitas crianças.
Plantação de café, os homens iam cuidar. As mulheres se dividiam entre as tarefas da casa - uma na cozinha, outra nas roupas, outra com as crianças, algo assim.
Não era uma vida fácil nem tranquila. Proteções, discriminações, brigas por espaço, enfim...
Com o tempo as famílias  foram se mudando para outras casas construídas no sítio ou ao seu redor.

Meu avô, o primogênito, ficou com a casa e daí minhas memórias dos dias primeiro do ano, quando passávamos o "Ano Bom" em grande almoço em família.
Mudaram-se para a cidade eu tinha uns 10 anos. As terras arrendadas, a casa fechada foi sendo abandonada. Nunca trouxe boas lembranças para as crianças que lá nasceram e cresceram - meu pai e tios.
Hoje está a venda, junto com as terras ao seu redor. Melhor dizendo, as terras estão à venda e, por acaso, tem lá uma casa abandonada.
Sinto pela casa tão cheia de histórias.
Mas, enfim, vende-se uma casa, não se vende suas histórias.


Em tempo, saí do filme de Woody Allen, "Meia Noite em Paris", com vontade de caminhar pelas ruas da cidade em dia de chuva...

domingo, 26 de junho de 2011

Homens e Deuses

Se existe Deus ou Deuses, não sei.
Mas o filme Homens e Deuses vale à pena.
Uma história verídica: oito monges católicos, franceses, servindo a uma aldeia muçulmana na Argélia,
se vêem ameaçados por um grupo guerrilheiro islâmico em 1996.
Ficar, peito aberto,
aceitar a proteção do exército,
abandonar o país.
Questões humanas se colocam para os oito.
As razões dos monges para ficar são fortes,
parte da própria compaixão pelo outro,
assim como as razões dos guerrilheiros islâmicos para os ataques.
Para cada um seus deuses.
Mas para todos a transcendência maior - a humanidade.
O que nos une é o que nos torna humanos
Também o que nos separa.

Homens e Deuses,
na verdade,
são Homens e Homens.

Uma vez li de um escritor e poeta indiano,
Rabindranath Tagore:
"A liberdade do outro estende a minha ao infinito".
É o que me faz mais sentido.

domingo, 19 de junho de 2011

Raivas

Conversas de jantar são interessantes.
Final de dia, processamentos,
uns tantos ficam para os sonhos e pesadelos.
Melhor ter cuidado.

Pessoinha de 8 colocou a questão:
"Mãe, tem uma coisa que acontece, que não sei,
mas fico sempre com raiva de alguém,
muita raiva e que demora prá passar."

Eu sei, já sabia.
"Pois é, raiva a gente tem, faz mal à pessoa,
mas faz mais mal a quem tem.
É ruim sentir raiva, não é?
E também faz muito mal para sua saúde, para o seu corpo,
porque você fica tensa, estressada e faz mal para os órgãos..."

Ui! Resposta tipo auto-ajuda que, de fato, pouco serve.

Mas da de 10 vieram uns olhos arregalados.
Em geral sente muito menos raivas.
"Mas dá pra morrer de raiva?"

"Indiretamente sim, fisicamente, o sistema imunológico..."
A conversa foi indo por estes caminhos sem graça.
Mas terminou com risadas das piores caras de raiva que cada uma sabia fazer.
Rimos da raiva.
Melhor assim.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um manto

Nesse frio pensei num manto de Bispo do Rosário.
Aquele cheio de bordados, costuras, colagens,
do que passa pela cabeça e do que perturba,
que serve para esconder,
ou proteger,
ou mostrar.
Quero um prá mim.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Rir é o melhor remédio

Já ouvi uma vez, dirigido especialmente a mim,
a citação de uma música:
"cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..."
Atualmente, estou mais para
"ria mais de si mesma..."
Não é o melhor,
é o único remédio,
acho.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

E se...

Uma história de tempos já ouvida,
é mais ou menos assim:
Um homem viajando em uma estrada,
de terra, interior, isolada,
sem sinalização, sem sinal de vida a 360 graus

(alguém sabe como colocar o sinal de graus num teclado de Mac?)

Cansado, ainda falta um pouco para chegar.
Gasolina acaba.
Num esforço enxerga uma luzinha no quase horizonte
E é uma luzinha sim, de uma casa, ao que parece.
Terá que caminhar até lá para pedir ajuda,
uns 2 kilômetros talvez.

"Preciso de uma ajuda,
tenho que caminhar ate lá,
não tem jeito.
Aquela casa está com a luz acesa,
certamente tem alguém por lá acordado.
E morando assim isolado, deve ter um carro,
e vou poder pegar emprestado alguns litros de gasolina.
Vou precisar de uma mangueira e de uma garrafa.
Pode ser que esteja sozinho
e até goste que uma pessoa chegue para conversar.
E me ofereça uma xícara de chá pra tomar antes de me levar de carona de volta.

Uns 500 m já tinha caminhado.

"...mas pode ser que não.
Que o morador esteja acompanhado,
Ou mesmo que esteja sozinho,
que afinal optou por morar nesta casa tão isolada,
porque não quer ter contato com nenhuma gente.
E eu vou chegar pedindo gasolina, uma mangueira, uma garrafa usada.
A esta hora.
Com certeza vai ficar irritado..."

Nesta já havia caminhado pouco mais de 1 km

"... e se estiver sozinho,
e queira mesmo é ficar sozinho,
vou chegar numa hora que não é para ninguém chegar,
afinal são 1 da manhã,
a hora é imprópria mesmo,
e vou ser odiado por chegar,
e bater na porta.

Mais um kilômetro e os passos vão diminuindo,
Cansado.
O pensamento acelerando...

"Para a pessoa daquela casa não interessa o meu problema,
e afinal, a pessoa vai pensar que o problema não e dele ou dela,
a esta hora da noite cada um cuida das suas coisas.
e não interessa se só o que eu estou precisando é de
uma mangueira e de uma garrafa e de um pouco de gasolina.
Eu que me vire,
ande mais uns kilômetros para a próxima casa,
e vai abrir a porta já me xingando,
e vai bater a porta na minha cara...".

A esta altura já chegando e ofegante e irritado,
e bufando, bate na porta.
Um homem abre, tranquilo,
do tipo "pois não...".
Mas não deu nem prá perceber.

"E quer saber?
Você que fique com sua mangueira
e sua garrafa,
e a gasolina,
e  %$^%&*^%^%*#@$%*)($#
que eu nem quero mais saber,
e também não preciso de nada!!".

De fato, à 1h da manhã,
a noite é cheia de
"e se...".

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Minha avó faz 96 anos

Minha avó faz 96 anos.
Não sei se vou saber contar até 96,
mas sei contar história, algumas.

Ela e meu avô sempre moraram no interior, nós na capital. Eu tinha uns 5 anos quando minha irmã menor ia nascer e eles vieram para ficar em casa com a gente.
Eram vários dias de internação na maternidade e ela nos levava todos os dias, com meu avô (não me lembro de um dia na vida em que eles não estivessem juntos) para visitar meus pais e a Rita, recém-nascida. Na volta, parávamos em uma lojinha para comer pão de queijo - uma iguaria na época, já que não se encontrava em qualquer esquina. Era como comer bolo de chocolate, brigadeiro, sorvete, tudo de uma vez só.

Eles vinham sempre nos visitar em São Paulo. E ela chegava em casa invariavelmente com um saco de biscoito de polvilho pela metade, que tratávamos de terminar. Não existia viagem de carro sem uma paradinha para comprar o tal saco de biscoito de polvilho e vir comendo.

Nestas visitas, eu e minha irmã éramos desalojadas de nosso quarto para ser utilizado por eles. Eu acordava bem cedo e ia ficar na cama com ela. O quarto à meia luz, ficávamos embaixo das cobertas conversando, esperando o prato de frutas cortadas que meu avô já acordado trazia. Infalível. Sentávamos na cama para comer juntas e eu emprestava um pouco de sua majestade naqueles momentos.

Foi numa manhã destas que combinamos que ela teria um cachorro na casa dela, que eu conheceria quando fosse visitá-la. Escolhemos juntas o nome: Pingo. Adorei quando cheguei na casa dela e, como havíamos combinado, lá estava o Pingo: um cão pequinês, raça que nem se vê mais atualmente, que pulava e latia como o diabo! E olha que eu nunca gostei de cachorro, mas esta lembrança é sempre uma delícia.

Foi graças a ela que sobrevivi feliz a uma viagem de carro de um mês pela costa brasileira, entre São Paulo e Natal. Fomos em 2 carros: um com meus pais, ela e meu avô, eu e meu irmão mais velho; outro de um casal amigo com 3 filhos de nossa idade. Tinha 8 anos e aquela era a oportunidade de ouro para comer todos os sanduiches e tomar Coca-Cola que não podia na rotina em casa. Ela me defendia em todas as minhas brigas com meus pais para não experimentar os pratos típicos de cada cidade e,  graças a ela, consegui comer "sanduiche americano" - aquele com presunto, queijo, ovo, alface e tomate - praticamente todos os dias da viagem. Só vim a gostar de Bobó de Camarão e coisas afins muito mais tarde, o que não me causou nenhum trauma nem desvio de paladar. E hoje eu não consigo não brigar com minhas filhas pelas mesmas razões que meus pais. Papel de pais, papel de avós, acho...

Aliás, minha avó sempre foi minha defensora incondicional nas brigas, manhas e chatices que eu provocava e que não eram poucas. E destas lembrancinhas corriqueiras esta é a mais importante de todas, porque ela me fazia ter certeza de que eu não era aquela menina ranzinza, de "gênio ruim", pelo menos naquela época...

E eu sou apenas uma de seus 16 netos com mais outras tantas histórias e ela, com toda sua personalidade, certamente foi 16 avós.
Alguns chamam brava,
mas na verdade firme,
nas posições,
nas idéias,
nos valores,
nas defesas,
não importa em quê,
nos seus anos todos.

Minha avó faz 96 anos,
e até hoje só olha prá frente.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Possibilidades

Uma calma, observadora, centrada.
Outra em briga por espaço, referências nos outros,  identidade.
Precisão na percepção dos sentimentos e das dores.
Auto-percepção misturada a desejos, impulsos, demandas.
Dois olhos bem grandes me olhando firme logo que nasceu.
Entender o mundo.
Uma boca bem aberta ao me olhar logo que nasceu.
Devorar o mundo.
Lindas no mais amplo sentido.
Opostas como os pais insistem em ver.
Projeções, lógico.
Não deveriam ser congeladas.
Afinal, já contou quantas mandalas se formam num caleidoscópio?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O mundo está melhor??

Tenho dificuldade em assistir a filmes violentos, mas acho Tarantino brilhante. Em seu último filme - Bastardos Inglórios - a violência e o sarcasmo são tão caricaturais que nos deixam atônitos, perdidos em meio a uma trama em que se misturam tensão, terror e ironia. O filme é extremamente original ao lidar com um tema já tão decantado, mas sempre delicado, como o do nazismo.
Sua sequência final me deixou impactada em 2009 e ainda hoje: toda a cúpula do Terceiro Reich, incluindo Hitler, reunida em um pequeno cinema francês para assistir a um filme sem roteiro - tiros e metralhadoras matando judeus. A audiência mediocrizada, fora de si, gritando e empolgando-se com a matança como num Coliseu torcendo pela morte numa luta entre gladiadores. Enquanto isso, as portas  eram trancadas por fora para que não pudessem escapar quando a sala fosse incendiada numa ação bem planejada por caçadores de nazistas e uma sobrevivente judia.
Certamente, nenhum de nós teria objeções à morte de Hitler (aliás, que outro diretor teve a coragem de matar Hitler? Talvez algum, não me recordo). Mas até por isto, esta mesma cena que assistíamos replicou-se em cena real na sala do cinema em que eu estava, com cores muito mais claras, naturalmente. Uma onda de tensão e ânimo crescentes à medida em que a ação se desenrolava e que resultou até em palmas quando, ao final,  Hitler e a cúpula nazista morreram queimados.
Fiquei assustada comigo mesma. Acirramento de ânimos, vingança, não por mera coincidência me lembrei deste filme nestes 2 últimos dias.
"O mundo está melhor com a morte de Bin Laden?" Difícil. A Guerra contra o Terror e o Terrorismo são parte da mesma história, se auto alimentam e continuarão aí, por todas as questões políticas, interesses financeiros e enquanto nossos ânimos também o sustentarem.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Toma que o macaco é seu!

Terminando nossos mestrados.
Eu no ritmo... normal. Ele 24x7, com as metas impossíveis que se tinha colocado.
Certa noite eu virava, virava e não dormia.
Umas 3 da manhã ele acordou.
"O que acontece que você não consegue dormir?"
"Preocupada! Metas absurdas e fica se matando sem necessidade. Vai se frustrar e aproveitar pouco este período e não vai fazer direito, e..."
"Tranquila! Está tudo sob controle!"
Bom. Virei para o lado e dormi.
Ele ficou acordado o restante da noite.

Problema, mesmo, é quando não dá, ou não conseguimos, devolver o "macaco" ao seu dono.

domingo, 17 de abril de 2011

Bandeira Branca

"Quando será que vou começar a pintar o cabelo?"
Fiz a pergunta, pretensamente despretenciosa. Falei por falar.
Cabelos brancos, já tenho. Por hora, à vista.
Bastou para a senhora (moça?) atrás de mim na fila entrar na conversa, e falar por meia hora - pintar, não pintar, as amigas, as multicores, cuidado ou descuidado com a imagem, contextos, botox, beleza, velhice, juventude, neuroses, as brasileiras, as européias, beleza interior e exterior (!!), universo feminino, masculino...ufa!
Eu só queria mesmo saber até onde vou com meus cabelos brancos.
Não era uma bandeira feminista contra a ditadura da juventude, a princípio.  Só curiosidade? Devo reconhecer que curiosidade gerada pela guerra - interna, externa - contra a idade que passa.
Queria envelhecer sem bandeiras, pode ser?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Certezas, dúvidas...

"12 Homens e uma Sentença"
Estava há muito para assistir a este filme de 1957.
Um juri que deve decidir, por unanimidade, pena capital ou absolvição para um jovem sob acusação em um caso de homicídio. O assassinado, seu pai.
Um caso muito fácil: 11 pela condenação, dadas as evidências apresentadas pelas testemunhas. O 12º,  com dúvidas, quis discutir. A discussão entre os 12 colocava na mesa os preconceitos e mostrava o poder da dúvida. Os votos foram mudando.
Alguma certeza? Nenhuma. Certeza das dúvidas apenas, o que já era bastante relevante no caso.
Fiquei na dúvida sobre as certezas. Jogo banal de palavras, mas a dúvida não é banal.
Pior: pensei como princípios podem gerar dúvidas ou certezas, e as certezas, mesmo fiadas por princípios, são mais perigosas...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Histórias de pai, histórias de mãe

Não queria apelar para estereótipos, mas histórias de mãe e histórias de pai...
Uma sobrinha veio um dia dormir em casa. Uns 6 anos, talvez.
"Se você acordar à noite, pode vir para o nosso quarto, tá bem?"
Três da manhã lá estava, querendo os pais.
"Olha, está muito tarde. Deita aqui e dorme no meio da gente".
Sonada, joguei para o lado:
"Seu tio conta uma história prá você".
Deitou, voltei a dormir - tentei - e ele começou:
"Sabe, tem um projeto de satélite em que o tio está trabalhando, super legal!
Acordei assustada e tentei ajudar:
"Você sabe o que é satélite?"
"Não!"
"Então, é ..... "
Só me faltava ter que imaginar como explicar didaticamente o que é satélite às 3 da manhã, pensei.
E ele continuou:
"...e este satélite é muito legal porque ele dá não sei quantas voltas na Terra por dia, e passa por cima da Amazônia, e dá para monitorar...".
De novo tentei:
"Você sabe o que é a Amazônia?"
"Não!"
"Então, é uma floresta ..."
Ele continuou. A história terminou, não sei em que parte.
Silêncio por um tempo...
"Tia, não estou conseguindo dormir!"
Eu também teria insônia neste caso.
"Então... sabe...era uma vez, num reino muuuuito distante, uma princesa que...."

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nuvens

"Relaxa. Pensa que no final é tudo nuvem", ouvi em um momento de stress.
Cinza? Poeira? Tempestade? Radiação? Vapor?
Nuvens de algodão?
Nuvens formam desenhos.
Não tenho opção. Terei que imaginá-los.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Repertório é tudo!

Confesso: fui assistir a "Never say Never" com uma filha e uma amiga dela.
Biografia filmada dos longos e edificantes 16 anos de vida de Justin Bieber e de seu ano de sucesso em turnês.
Para quem não tem filhas pré-adolescentes, explico: o mais novo fenômeno do marketing musical americano (ainda que ele seja canadense). Tem voz, as musiquinhas de sempre, e as incomodantes  coreografias padronizadas e menininhas gritando e desmaiando ao vê-lo como o príncipe encantado. Ainda o príncipe encantado...
Sei, faz parte da fase que estão entrando, pertencer, meninos pop, etc. Enquanto assistia, ficava pensando que conversa poderia ter com elas depois, para relativizar, diluir aquela encenação toda - seria uma típica cena de "mãe controladora vai ao cinema com filha".
Me acalmei. Na conversa, Justin foi colocado, por elas, na lista de ídolos junto com Nando Reis.
Chegando em casa continuei: coloquei o DVD do "Playing for Change", belo projeto. Os próximos: "Buena Vista Social Club", "The Commitments". Formação de bandas e roteiros de turnês.  Prometo não chegar com elas ao filme "Ensaio de Orquestra", de Fellini. Não desta vez.
De qualquer forma, diversidade de repertório é o que vale.
Para todos nós já que parei acho que lá pelos anos 90.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Carros

Preconceitos à parte, nunca me apeguei a carros, o que não significa que eu não tenha na memória vários  que passaram pela história da família. Uma Perua Rural branca e verde de meu avô. Um Aero Willys que foi do outro avô por toda vida e que está com a gente até hoje. Um Karmann Ghia vermelho de um tio - crianças, adorávamos. Um Decavê (DKW) de um outro tio, acho, que era chamado de Jabiraca. Alguns Galaxies que passaram - tamanho da família.
Uma certa altura meu pai teve um Maverick cinza, velho. Detestávamos. A casa toda ficou aliviada quando ele resolveu fazer uma rifa para passá-lo adiante, só para descobrirmos que ele recompraria do sorteado em seguida.
Em 95, chegando em San Diego para uma temporada de estudos, fomos alugar um carro para o período, em uma loja de um indiano. Um Volvo antigo saltou aos olhos. "Sempre quis ter um Volvo! Motor forte, nunca quebra!", dizia Sennes. 40 km depois, estacionado na porta de casa, claro que não deu partida no dia seguinte. Liguei para o indiano: "Kush, o Volvo não está pegando!" Um probleminha pequeno que estaria arrumado em 1 semana. De volta na porta de casa, novamente não ligou no dia seguinte. Acabamos ficando com uma marca americana qualquer, sem charme.
Aprendi: Aero Willys é um carro para toda a vida, Mavericks não têm liquidez na venda e Volvos nunca quebram.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Animais domésticos

Não gosto muito de animais domésticos. Vejo como meu amigo agricultor: animais devem ser tratados como... animais e viverem no seu reino animal.
De qualquer forma, vivendo na cidade, com pais, irmãos, amigos, marido, filhas que gostam de animais, acabei sempre convivendo com eles. Já tivemos coelhos soltos no jardim, que comeram até a raiz da grama e, presos, transformaram seu cercado em um problema de saúde pública, tantos os filhotes gerados em espaço pequeno. Por sorte não tínhamos dado nome a eles, o que tornou mais fácil enviá-los ao sítio, sem culpa e sem pensar no destino que teriam.
Já nosso cão pastor tem nome e sobrenome. Sua ninhada, no canil, deveria ter nomes começando com F. Para evitar Fritz, Frank, etc, ficamos com Fio."Fio Maravilha....". Tem até música homenageando! É um ser muito bonito e simpático, exceto pelo fato de ser um cão.
Mas a domesticação de animais pode chegar a extremos. Outro dia uma sobrinha percebeu que sua kalopsita na gaiola estava com sangue no pescoço. Meu  irmão foi checar e o tal passarinho estava com mais da metade do pescoço aberto, machucado na gaiola. Rapidamente ao veterinário. Anestesia para poder dar ponto, parada cardíaca, massagem para reanimar - nem sei como foi possível fazê-lo. Aguardando o passarinho acordar da traumática cirurgia, minha cunhada presenciou cenas curiosas na sala de espera: um coelho chegou com hipotermia, uma tartaruga com o útero para fora. Se bem me lembro da história, chegou também um papagaio com uma pata queimada. Por sorte o passarinho logo acordou e eles - passarinho e cunhada -  voltaram para casa, sãos e salvos.
Minha criatividade não dá conta de imaginar qual seria o caso seguinte a chegar naquela sala de veterinário.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Folga na direção

Sabe Kombi com folga na direção?
Nas eleições municipais em 1988, guiávamos algumas vezes uma Kombi doada à campanha de vereador, carregando materiais de campanha e tudo o mais que precisasse.
Não bastando ser uma Kombi - nariz quase no parabrisa, direção na posição praticamente na horizontal - havia folga na direção, o que fazia com que se tivesse que dirigir virando-a constantemente para a esquerda e para a direita para manter o trajeto reto.
Virou uma expressão em casa, utilizada em alguns casos específicos.
Tenho guiado esta Kombi ultimamente, tentando manter algum trajeto.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Monstros

Pesadelos.
Minha filha tem muitos atualmente, e nunca gostou de falar sobre eles. Apenas vem para nossa cama no meio da noite. Mas recentemente começou a falar a respeito. Depois de um deles contou que tentou recomeçar a história e mudar o fim, mas não deu muito certo. Eu também nunca consegui. Pesadelos são pesadelos, ponto.
Ontem veio contar de um outro: classe de aula em um  shopping, aula de ciências, no mezzanino das salas  viviam civilizações antigas, e na classe estavam estudando bebês, com vários deles em cima das mesas da classe. Compunha uma longa história, como normalmente nos sonhos e pesadelos.
No meio disto tudo tinha um monstro - meio cachorro, meio urso -, que ficava enjaulado atrás de muitas grades. Muito bravo, em algum momento fugiu e amedrontou a todos, que saíram correndo. Mas tinha uma característica muito peculiar: gostava de pipoca. Em certo momento, as crianças jogaram sacos de pipoca no quintal da vizinha - chata - e para lá ele foi.
Meus monstros não gostam de pipoca.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Viagens

Chego de um vôo.
Na esteira circulam as malas, terminando sua viagem.
Frente à a esteira, esperando, continuo numa viagem: passam malas, não tão variadas, um pouco maior, um pouco menor, abauladas, vazias, grande parte pretas, quinas quadradas, quinas arredondadas. Mas de vez em vez vêm umas de plástico e não lona, duras, fecham com encaixe, sem zíper. Queria ter uma destas? Mais estruturadas, bem fechadas, devem se equilibrar melhor nas rodinhas, sofrer menos quando são jogadas pelos funcionários da empresa aérea. Mala de gente organizada, roupas bem passadas e dobradas, objetos bem distribuídos, dimensões bem planejadas, penso. Logo penso que não quero para mim. Limite muito definido. Uma peça além, desiste, simplesmente não fecha. E ponto. Não cabe aquela coisa a mais que nosso desejo (necessidade?) não resistiu e comprou. Planejou usar aquele tamanho de mala? Arque com as consequências e carregue o extra na mão, em outra mala, como for. Não dá para ajeitar com clips o zíper que perdeu a alcinha, não dá para mandar arrumar no sapateiro. Não dá para dar um jeitinho.
Quanto pré-conceito, afinal são apenas malas passando em uma esteira! Que viagem!
Quando vejo, passou o tempo e lá chega minha mala... com o zíper estourado.
Termino minhas viagens e volto para casa.
Amanhã dou meu jeitinho.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ser mãe/pai não é para iniciantes - VI

Duas meninas.
Há uns 7 anos, pós etapa fraldas, o primeiro ambiente que conheço a cada lugar que chego ou passo, é o banheiro. Descobri banheiros em lugares que nunca pensei haver - postos de gasolina na cidade, supermercado, lojinha da esquina, farmácia. Corro o risco de ter que conhecer o banheiro da lotérica do outro quarteirão. Quando acho que a coisa está ruim já entro no recinto com elas armada - "Mãos ao alto! Ninguém toca em nada!" - sabendo que dali pra frente pode piorar bastante. Nas férias, uma experiencia à parte nas viagens, já que estamos em constante circulação. "Donde es el baño, por favor?"  - uma das principais frases aprendidas por elas nestas últimas férias no Peru. E encontra-se de tudo. Algumas vezes, uma experiência...
Hora destas solto um guia, internacional até, com indicações e classificação de banheiros mundo afora.
Enfim, já me acostumei com o cor-de-rosa, mas com esta história dos baños, ainda não.
É o único momento em que sinto não ter sido mãe de dois meninos.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Sabidade

Dia destes subi no elevador do trabalho com o proprietário dos escritórios do prédio. Já com bastante idade e muito simpático, sempre tem uma conversinha agradável quando nos encontramos.
- Tudo bom? Começando bem o ano?
- Sim. Eu não sou daqueles que gostam de criar problemas. E só tomo para mim aqueles que eu posso resolver.
- Grande sabedoria, respondi.
E sai pensando.
Com que idade a gente é capaz de dizer isto verdadeiramente?
Gostaria de começar meu ano assim.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cara de paisagem?

"Cara de paisagem": sem vida, alheio, imóvel, "não tenho nada a ver com isto"...
Volto do Peru, não o de Cusco e Machu Pichu, mas o de Lima, litoral sul, Nazsca... e mesmo aí a paisagem diz tudo - tudo -, e não só da natureza.
De um outro mundo, de hoje, de ontem, de séculos e séculos atrás, de miles de años.
Sítios arqueológicos por toda parte, histórias embaixo de nossos pés, que nos tornam pequenos no tempo, nos feitos, nas relações com o ambiente em que vivemos (não quero dizer meio ambiente porque esta palavra já vem carregada demais). Prédios construídos em cima de restos remanescentes de cidades, modos de vida, crenças e costumes, civilizações A.C e D.C.
Escarpas em frente ao Pacífico. Montanhas e montanhas de pedra circundando a capital. Um céu permanentemente claro, mas nublado pela névoa do oceano. Horizonte borrado por esta névoa. As gentes se acostumam a viver sem um céu azul azul.
Cidades destruídas pelo último terremoto, 2007. População circulando e tentando se recriar entre destroços ainda não varridos das ruas. Ruas? Ruas com cara de Bagdá.
Dunas. Kilometros quadrados de dunas sem fim. Um outro mundo, horizonte, sol se pondo na areia. E no meio disto tudo, um oásis - de verdade e não força de expressão - água, palmeiras encravadas no meio das montanhas de areia, e servindo de refresco para populações há centenas de anos. Hoje fazem a tarde de domingo de famílias da periferia da cidade próxima. Mas na paisagem, um quadro pintado - um passeio antigo construído em torno do lago, frente a um hotel de 100 anos atrás, estilo Índia Colonial, que testemunham outras histórias. Quase dava para ver damas passeando de vestido comprido, fechado e sombrinha, embaixo do sol de rachar, ao lado de cavalheiros de terno risca de giz, chapéu e bigode bem aparado.
Linhas de Nazsca. O que é aquilo? Um vale desenhado. Linhas e curvas precisas. Desenhos e caminhos que desafiam as interpretações de ufólogos, arqueólogos, astrônomos e matemáticos.
Paisagens, e só parte das tantas que formam hoje um país. País? Nossa classificação e circunscrição de tantos e tantos territórios, de tantas e tantas civilizações, de tantas e tantas relações.
Cara de paisagem? Acho que só vale para esta própria expressão. De resto, tudo tem história, vida.
Muita vida.