segunda-feira, 28 de novembro de 2011

É demorado


Um tanto de tempo depois que minha primeira filha nasceu,
cansaço já diminuído,
me dei conta.
Tão claro e tão difícil de entender.
Mais ainda de explicar.
O tempo, a história, já não eram mais os meus.
Eram os dela.
Ver uma nova vida e uma nova história começando.
E uma sensação de que a minha linha do tempo terminava ali,
eu continuaria numa outra linha do tempo.
Me estranhei.
Em algum momento retomei minha linha e aquela sensação sumiu.
E outro dia li uma citação de Guimarães Rosa:
"Vocês têm paciência meus filhos. O mundo é meu, mas é demorado...".
Riobaldo, que não falava de filhos, mas de um cuidado com os seus no meio de uma batalha. E a paciência necessária para esperar o final.
Já estava com aquela minha história na cabeça e achei que um pouco me servia.
Sobre tempos, sobre cuidados.
E por tempos e cuidados,
me serviu ainda mais num momento em que minha mãe recém fez seus 70,
com grande comemoração.
Tem sua linha do tempo e tem o sempre cuidar dos seus.
Do sentir como mãe e como filha, posso dizer:
O mundo é meu e é dela e não é preciso pedir paciência.
Está aí e é demorado.

sábado, 19 de novembro de 2011

Jabuticabeiras

No meu caminho para o trabalho vi um pé de jabuticaba Grande na caçamba de um caminhão. Sem ter muito o que pensar logo de manhã, me peguei com um pensamento longo sobre a árvore e a fruta.
Para começar, simplesmente adoro. Adoro o gosto e adoro comer, com aquele estouro que faz na boca. E tem todo aquele romantismo de comer a fruta no pé. Pé de jabuticaba é fácil de subir, e que me lembre subi muito na fazenda de meu avô. Mas hoje não sei como se faz sem sentar e amassar as jabuticabas, tingir a roupa, estragar os brotos.
Jabuticaba na feira é menos romântico, mas mais fácil e vem de montes. Meu pai, que tem por natureza pechinchar, chegou uma vez em uma barraca em fim de feira e arrematou - esta é a palavra mesmo - tudo o que tinha sobrado no tabuleiro. Muita geléia para não estragar.
Vi a jabuticabeira e veio de novo o desejo de ter uma Grande, no quintal. Melhor que minhas amoreiras, que também gosto, mas não dão jabuticaba, claro, nem é um pé tão bonito.
O problema é que é uma arvore que cresce lenta.
Pois volto a pensar naquele pé já crescido a ser replantado, em um jardim qualquer, e a tentação: "Já dando fruta", diz a placa destas caminhonetes que as vendem pela cidade. Mas se é para comer jabuticabas, o tabuleiro da barraca da feira dá bem conta.
Uma jabuticabeira plantada por você não. É uma questão de persistência e de acreditar que vai chegar o dia de subir no pé e se tingir para comer as frutas que você plantou.
Paciência.
Maturação da árvore, maturidade do plantador.

domingo, 6 de novembro de 2011

Quarto de costura

Tenho um quarto de costura no fundo de casa.
Uma máquina, uma mesa grande, cestas com linhas, fitas e botões
e um armário: 4 portas cheias de panos colecionados
e roupas a serem ajustadas, reformadas, adaptadas.

Não que eu saiba de fato costurar.
Dou uns jeitos, pouca técnica, muitas idéias,
sem muita sistemática nem paciência para seguir o passo a passo
de um acabamento fino.

Há também outros tantos materiais interessantes:
latas, fios de arame, cordas, vidros que foram coletados para virarem outros objetos um dia.
Já tive idéias para cada um deles.

Verdade mesmo é que praticamente nunca uso o tal quarto.
Falta tempo, tranquilidade, disponibilidade.
Mas ele está lá e é imprescindível.
Me recuso a chamar de quarto de despejo.
O de despejo é um outro, tem outra função
que a família e amigos bem avisados conhecem.
(outro dia uma amiga encontrou duas camas de solteiro que estava precisando...)

Meu quarto de costura não, não é despejo.
É meu depósito de planos e desejos.