sábado, 20 de agosto de 2011

Primeira Infância...

"Mãe, hoje eu di mimite na Mila.
Você o que, Iaiá?
Eu di mimite na Mila.
O que é mimite?
É assim...- e pegando em um punho com a outra mão - ..Mimite!"

Demorei um pouco a entender o que minha filha, de quase 2 anos, alguns meses de Tearte, queria dizer, no carro, de volta da escola. Vim a saber que se tratava do Limite!, palavra e gesto que são uma das primeiras conquistas das crianças que entram na Tearte: de início, defender-se de quem o agride ou  desrespeita. Mas muito mais que isto, como tudo o que acontece por lá. É aprender a olhar no olho, a enfrentar seus desafios, a perceber os seus limites, a se relacionar com respeito, iniciando pelo respeito a si próprio, que os outros devem reconhecer.

O que dá para falar da Tearte? Quintal de avó, escola alternativa(!), aprender brincando, espaço de liberdade? Nada disso diz exatamente do que se trata e parecem, às vezes, até equívocos.

Como explicar uma caixa de brinquedos velhos, pedaços quebrados, sujos, embaixo de uma casinha de madeira suspensa, que são descobertos e redescobertos pelas crianças? Como explicar bebês dormindo em um colchão sem lençol, no chão, ou engatinhando no meio de um salão por onde passam e correm crianças de todas as idades, sem atropelá-las? Como explicar um quadro de ferramentas, com martelo, serrote, pregado na parede da oficina na altura das crianças que passam o tempo todo por ali? Como explicar uma rampa para o campinho, alta, sem rede e proteções laterais? Como explicar rampas, degraus, valas, que podem representar grande perigo para crianças que estão começando a andar, ou que vivem correndo nestes espaços? Como explicar a letrinha, processo que ajuda os mais velhos a pipocarem - iniciarem uma alfabetização a seu modo, em seu ritmo -, no meio de um salão onde todos circulam, passam, cantam o tempo todo? Como explicar a forma como as atividades vão sendo realizadas, agrupando crianças de mesma idade, mas também incluindo menores ou maiores, sem um planejamento prévio, apenas com um olhar sensível dos educadores que na troca de olhares percebem onde e o que está precisando ser feito?

Regras introjetadas em todos os que lá convivem, reconhecidas e monitoradas por todos. Respeito; justiça; autoridade, autoritarismo também; rigidez, mas também possibilidades múltiplas. É lá que a pinhata tem um sentido de passagem e não uma violenta "malhação de judas", como foi algumas vezes a impressão de amigos e familiares em festa de aniversário em casa. É lá que o Tião, músico maranhense, tem espaço em todos os momentos do ano e não apenas nas festas juninas ou folclóricas. É lá que...muitas coisas!

Espaço construído com muito conhecimento, muita experiência, muita interação com especialistas e não especialistas. Entendida e vivida com mais ou menos flexibilidade, mais ou menos submissão às regras, mais ou menos questionamentos, mais ou menos tranquilidade, por sua comunidade de pais, educadores, crianças, a Tê. Muitos acertos e erros, claro. Experiências no dia-a-dia.

Aí passei com minhas filhas a primeira infância nos seus 2, 3, 4, 5, 6 e 7 anos, entre 2002 e 2009.

Esta história escrevi há um tempo atrás e alguns já leram, mas repito neste momento em que a Tê - Terezita - faz 80 anos, com uma linda festa-piquenique, com mais de 100 famílias e suas crianças que por lá passaram.

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